sábado, 30 de novembro de 2013

Agora és todo o silêncio
pesado e agudo
e desesperadamente tranquilo.

E eu sou espera
longa, resignada, com palavras mornas
e cuidadosas.

E agora que nascem e morrem os dias
apesar de seres silêncio
nem é mais pesado.
E a espera que sou
já adormece
sonhando com outros rumos.

vinil

meu pensamento todo é um vinil riscado
volume descompensado
setenteoito rotações.

e me rasgo me desprendo me espalho e rio
caudalosamente

deságuo
na madrugada.

sou mais sonora
mais louca desvairada
e varrida
do que eu.
esta madrugada

tua presença em mim é detalhe.

e teu nome desbotado

não me faz nem suspirar


não nesta madrugada.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

TRISTEZA

Tristeza, faz o favor
passa depois
que mesmo disfarçada de verso,
hoje
te fecho a porta na cara.

Não me leves a mal
e acredita
hoje não tô pra poesia.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

TRINTA E DOIS

O inverno que a chuva trouxe
me pegou desprevenida,
desarmada.
Pisquei os olhos e já eram 
trinta e dois.

Eu, que sou menina demais
para sentir o tempo passar.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

VAMPI

Vampiriza-me
que de sangue não tenho só o cabelo
tenho os olhos
a boca
os seios
as entranhas.

e o vermelho
que minha alma derrama
ainda serve de cama
mesa e banho

e enquanto teus dentes me provam
degustas meu corpo em taça
gole após gole
como vinho tinto
que sou.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

VERSOS OCULTOS



Há versos ocultos em risos cínicos,
Presos na garganta, em gritos atônitos.
Como quisessem explodir em vômitos,
Revoltos, paralisam os dedos tímidos.

Maldita seja essa ânsia estúpida
De rasgá-los em mil pedaços públicos
E espalhá-los por esses becos úmidos.
Gozar de uma serenidade súbita.

Livre, a garganta, dos versos patéticos,
Teria a boca uma secura pálida.
Corpo limpo de meus lixos poéticos.

A alma leve, em suspiros proféticos
Desprenderia em brancura flácida.
Voaria. Invisível aos olhos céticos.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

MADRUGADA

Fim de madrugada
Vazia e silenciosa....
Ponteiros se arrastam.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

SECO


brindas meu corpo nu

em taça.
em goles curtos me consomes
e é a mim
que embriagas.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

CALADO

Teu olhar parado
desenhado em branco e preto
encerra a madrugada.

Percorre o contorno da janela
abafa o ruído do relógio
destrói ensaios de sono
e volta
imponente
como fantasma que preenche o quarto.

Feito de um silêncio grave
te imagino som suave
e sem voz, e sem cor
te ouço
calado.

sábado, 18 de maio de 2013

DISPNEIA

preciso de ar.
mais ar do que cabe em meus pulmões
cansados ressecados vazios
mas sobrou alguma palavra
mal dita
não dita
desdita
parada em minha traqueia.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

PRESSENTIMENTO

Meu peito está dormente
os olhos umedecidos
a alma descorada

o dia todo é um pôr-de-sol
que já vem durando dias
e explode no olhar vago
como se pressentisse
uma despedida.

EU NUNCA TIVE MEDO DA MORTE

EU NUNCA TIVE MEDO DA MORTE...

... nem quando ela andou me rondando, ora lasciva, sedutora, ora criança crescida que estendia os braços em minha direção me chamando para brincar. Ela era cheia de risinhos e escárnios, às vezes nem expressão  ela tinha. Mas como me atraía aquele olhar vazio e solitário pedindo companhia. Me hipnotizava. Por mais de uma vez joguei com ela, ficamos frente a frente, ela não conseguia nem transmitir confiança com seu feitio esquálido e mudo e muito menos metia medo. 
Mas agora, vendo-a assim, aproximando-se lentamente, sorrateiramente, sem risos nem escárnios, só uma face sisuda e desconfortável de alguém  que mudou tanto a ponto de não ser reconhecido de imediato, agora  que ela passa por mim fingindo não me conhecer e nem faz questão de me olhar, agora ela me faz estremecer.
A morte mudou sua feição. Amadureceu. Tem jeito de quem não está para brincadeira. Virou coisa séria. Ora avança, ora recua, mas na maioria das vezes permanece estática, observando, como se esperasse o momento ideal. Algumas vezes eu consigo até sentir seu cheiro, ou sua respiração. A morte respira lenta e profundamente, quase um suspiro. Ela anda pela casa   como se fizesse parte das paredes ou dos móveis. Conhece cada um dos cômodos, os quartos, tenho mesmo a impressão de que nos conhece a todos. 
Eu não a conhecia, eu não a esperava. Uma desconhecida caminhando pela casa e deixando seus suspiros pesados no corredor. Não me procura nem tem mais olhos solitários. Instalou-se e seu olhar é de espera e paciência. E insiste em ficar. 
Lembro-me de quando eu não tinha medo da morte, ao meu lado sempre pareceu-me inofensiva. E ainda agora se tivesse voltado não como uma estranha, mas como aquela com quem cheguei a me acostumar, minha alma não se inquietaria. 
 Mas dessa morte, íntima de casa, que não me ronda, não me mira, e que não está para brincadeira, ah... dessa morte, eu tenho medo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

MANHÃ

A manhã chegou com cheiros e cores
de outono
decidido e debochado
invadindo a janela.

A quinta-feira derramando
sol e frio
no meu quintal.

sábado, 16 de março de 2013

MARIPOSA


madrugada despropositada
arrastada pelos galos
em berros enlouquecidos.

aqui 
desassossego de mariposa hiperativa
insone e descoordenada
saracoteando em torno da luz.

mas sem a luz.

OUTREM

Haja eu 
para tantas alheidades.

neologisticamente


haja
reconstruções
para tantas
desinvenções de mim.
 
Haja metáforas fajutas
e proesia desversadas

para tanta tarja preta.