domingo, 2 de dezembro de 2012

NOITE

O vento assusta minha janela
que estremece,
quebra o silêncio,
agita a escuridão.

É um retrato vivo que esperneia
a noite
presa na moldura
da minha janela assustada.

INSONE



Só um insone sabe o que é ser insone.
Essa sensação de que a cama ficou pequena demais para os pensamentos, ou os pensamentos grandes demais para a cabeça chega a ser torturante. Você olha para as paredes, o teto, os velhos livros já lidos e começa a ler novos outros e a cada meia hora olha para o relógio e constata que não se passaram nem dez minutos.
Você poderia perfeitamente realizar todos os afazeres do seu cotidiano, se não fosse essa obrigação social de viver durante o dia, que o faz desejar ardentemente que o sono venha.
A Terra gira muito lentamente durante a madrugada. Às vezes tento calcular quantas noites cabem em uma noite de insônia. Provavelmente inúmeras. Você poderia dormir, sonhar vários sonhos, acordar várias vezes e tornar a dormir, se as noites normais tivessem duração da noite de insônia. Você calcula quantas horas ainda restam até a hora de levantar, e é impressionante como você deseja que chegue logo esse momento. Não adianta apagar as luzes ou fechar os olhos, eles acabam se abrindo novamente para olhar para a janela para ver se o dia já amanheceu.
Você pensa naquelas gotinhas de tarja preta que não tomou e se sente a criatura mais ingênua por ter acreditado que conseguiria dormir. Aí você divaga, rola na cama, canta um trecho de alguma música para tentar controlar o nervosismo, volta para a posição inicial na cama, traça planos para o dia, para a semana, para o fim do mundo... mas não amanhece. E pensa novamente nas gotinhas, olha para o relógio, calcula quanto tempo ainda tem e constata que é tarde demais. Ou quase cedo demais.
Você sabe que por volta das onze da manhã, próximo ao meio-dia, o sono vai aparecer. Começa a imaginar então quais seriam as possibilidades reais de um descanso no meio da tarde. Volta a traçar planos, modificando-os todos. Olha para o relógio, olha para a janela e ainda não amanheceu.
Você jura que na próxima noite se lembrará de tomar as gotinhas, mesmo sabendo que certamente estará tão cansado, tão esgotado, que será ingênuo o suficiente para acreditar que basta deitar para dormir.
Então olha novamente para o relógio e torna a olhar para a janela. Quem dera se a Terra girasse um pouquinho só mais rápido.

sábado, 10 de novembro de 2012

Lamento

Ai de meus olhos que não voam,
que não engolem esse espaço em que me perco.

Ai de minha voz que não te alcança
e tristemente vai se acabando
como um canto tardio.

O céu acinzentado leva-me para cada vez mais longe
enquanto os olhos se acostumam com nuvens carregadas.
E, limitados, ficam.

Ai de mim
que não me faço estiagem
que não sou feita de sol
nem de tuas nuvens brancas.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Solidão


Mais triste 

e mais angustiante
do que a solidão
é não saber o que fazer com ela.

E ainda assim ter que engoli-la

l  e  n  t  a  m  e  n  t  e

no
seco.

 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Desapego

Calma.
Muita calma nessa hora...
Respirar fundo e olhar para frente.
Para frente.
Olhar fixo naquilo que não veio, mas virá.
No que ainda não foi sentido, mas será.

No horizonte.
Ho
ri
zon
te.

E deixar o que passou para trás.
Para trás.
Até o que ainda não passou,
mas passará.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Previsão



Nuvens carregadas
anunciando tempestades.
Estou instável.
Sujeita a trovoadas e pancadas de chuva.

De granizo.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Necessidade

Preciso de analgésico,
silêncio
e sono.

Antes que nasça o dia
e eu volte a precisar
do mundo.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Post Mortem


Não existe vida após você

Só uma solidão atravessada na garganta
e o oxigênio escasso
que rouba-me a voz.

Um caos com nome, sobrenome
e frieza.

Furacões não têm sentimentos.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Degustação


tua ausência
misturada com o café
é uma saudade sem nome
sem cor
e sem tamanho.

uma dor transparente
com um gosto estranho
e sem prazo de validade

ah, quem me dera engoli-la em um gole só.

Post Mortem

Não existe vida após você
Só uma solidão atravessada na garganta
e o oxigênio escasso
que rouba-me a voz.

Um caos com nome, sobrenome
e frieza.

Furacões não têm sentimentos.