segunda-feira, 28 de julho de 2008

Pequena


Passos leves que me levem
aonde quer que o vento queira
pois eu, eu já não sei
que destino me rodeia,nem sei
onde minha alma devaneia.

Pequena sou,
nem fada, nem sereia.
Quem eu sou
já não sei.
Mas sou pedaços nas areias.
Não me procures:não me acharás inteira.

Pequena, pequena...
E tão grande minha pena.
Meus pés não tocam o chão,
já não sou palavras, nem poemas.
Inaudível som, quase nada.
Fica apenas o silêncio
que minha alma envenena.

Calada,
nos olhos resto de um brilho,
um fogo que já não incendeia.
Quase nada...
Somente essa dor plena.
Como sentir-me grande, sentir-me inteira?

Sou só,
sou pó, poeira.
Nem fada, nem sereia.
Sou pequena.

Incertezas



Em que areias perdi minhas certezas?
Que mar é este em que me afogo?
Na alma, arde o peso de não saber-me mais...
Onde há porto? Onde há cais?
Busco vãs antigas fortalezas
Que me fogem como me foge a paz.

Em que areias, ou em que terras estranhas,
Atirei cada uma de minhas defesas?
Soltei ao vento ilusões inteiras,
Que voaram, voaram, voaram longe...
Trouxeram-me dores tamanhas
Ao corpo cansado, às minhas mãos presas.

Meu nome... este triste sussurro das ondas...
Vou sendo levada como se leva uma criança.
Tão perdida em calmas lágrimas derradeiras
Esperança...
Onde estás, que não me encontras?

Perguntarei às nuvens daquela que um dia fui
E já nem me lembro.
Se chegarei à praia, não sei, não sei...
Guardo em mim dúvidas e todas as tristezas.
E caso eu chegue, tomarei meus sonhos incompletos,
Os guardarei em meus lábios quietos,
E nas areias buscarei as velhas certezas.


domingo, 27 de julho de 2008

Desassossego




Em teu peito
me ajeito
delicadamente.
Teu corpo

é encaixe perfeito.
Tua respiração me acalma
e o contato com teu cheiro
afasta meus medos.
Em mim eu te prendo,
e com leve toque
te sinto em meus dedos.
Texturas, detalhes,
vou te decorando inteiro,
passeando por tua pele,
teus poros, teus cabelos.
Meu corpo é abrigo
para o teu prazer
e o teu desejo.
Desfaço-me em gozo.
Suavemente
te abraço em silêncio.

Acordo suada, em sobressalto.
Teu lugar vazio na cama ainda me provoca pesadelos.

Insônia

teto parede chão parede teto
chão parede teto parede chão
um quarto de mim aqui
um quarto de mim acolá
metade, sabe-se lá.

de cima pra baixo de baixo pra cima
rodando rodando rodando
retratos livros cds poemas papéis
um quarto de mim no teto
um quarto de mim no chão
um quarto de mim, parede
o resto alucinação

girando girando girando
confusão
olhos vidrados
cacos espalhados
espelho quebrado
tudo caindo
mundo dormindo...
eu, não.