sábado, 13 de setembro de 2014

Poema ao contrário


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Me falta um cigarro entre os dedos.
e a paz tranquila de quem se despede  d
aquele verso único
que se consegue uma vez na vida
antes de enterrar a poesia gasta.
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Me faltam dois dedos de uísque, 

e não venham com taças de vinho
e o sono pesado e embriagado
alheio à ressaca do dia seguinte.
.
Me sobrou o lítio
artificial
assassinando qualquer poema
de dor, ou de gozo.
De amor inventado.
.
Duas bolas castanhas pousam acima de minhas olheiras
sem histórias para contar
nem pesadelos.
.
E se é de mim mesma a falta que sinto
é que nem sei mais encontrar minhas partes
que vão ficando espalhadas pelos caminhos
sem nem ao menos brotar um pé de mim.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Distração


De repente,
como aquela pancada de chuva de tarde de janeiro,
os meus passos, desequilibrados, tropeçaram 
caíram
em si.
Deram falta.
Vasculhei bolsos, bolsa e botões.

Onde foi que eu deixei o meu coração?

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Preciso de algo que ainda não vivi
uma paixão que ainda não senti
com dores e dramas e metáforas
sobre as quais só ouvi falar.


Mas que seja mais intenso que o que conheço de ouvido.
Ou até mesmo de vista.
Que seja poético, desmetrificado e livre.
Invasivo e catártico.

Preciso de algo desconhecido
mas que eu possa morder nos ombros.
Não que me complete, nem que me transborde,
porque isso está batido demais.
Mas que me divida.

Que me rasgue de ponta a ponta

e depois me ofereça linha e agulha
e um drinque com duas pedras de gelo
que é para esfriar meus ânimos.

Cansei de paixões parnasianas
e sensações barrocas.
Ou me venha concreto, ou fique de longe
vendo a vida passar enquanto escande versos.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

"Essa minha mania

de colecionar paixões mal resolvidas 


ainda vai acabar com meu peito


- esse enorme depósito


de restos quebrados


de sentimentos fracassados."

só espero que meus olhos assim

tão inconsequentes 

tão fundos

não me inventem agora de querer você.


minha tensão desontrolada

era a invenção 

que te faltava

quarta-feira, 9 de abril de 2014


atropelaram a poesia.

peso da realidade

hai-kaindo em minha cabeça.
e se 

perder-se 

também for uma

forma mal resolvida

de talvez encontrar-se?

estarei tão perdida

em mim mesma

que um dia

eu ainda

me acho

aqui
eu
que sou feita de ventos e folhas caídas 
trago a noite tão próxima de minha alma 
que meus olhos semicerrados 
nem sabem mais enxergar a luz.

sou toda
cortinas fechadas e caos

antes que a noite toda me engolisse
eu mesma a engoli

em uma mordida só.