terça-feira, 23 de novembro de 2010

Desinvenção

No início era o caos,
e surgi-me do avesso.
Sinteticamente infinita,
inexata e desmetrificada.

De partes espalhadas,
desconexas, incongruentes
formaram-se os passos,
pensamentos e labirintos.

E do caos, fez-se mais caos
desdobrando-me em versos.
Linhas imperfeitas e teimosas
desenharam-me por dentro e por fora
quando eu fui sem nome.

Então sugaram o caos e inventaram um muro.
E depois a calmaria, o silêncio, o vazio. O nada.

Sobre uma dor

Se dessa dor invisível,
calada e definitiva
surgissem metáforas
e saltasse poesia

Seria ela talvez menos dor.

E enfeitada de cores
flores e rimas,
E disfarçada de um encanto
quase sutil

Nem dor mais seria.

Despida enfim do silêncio
talvez fosse
mais reticente
e menos definitiva.

Intransponível



Trago nos olhos sombras
intransponíveis
feitas de silêncio e voz.
.
Elas me são empurradas garganta abaixo
e me arranham por dentro
com gosto de sal e saliva.
.
Por isso não encontras minha alma
não lês minhas linhas
nem entendes que não sou segredo
nem mistério.
.
É até alcançares meus restos impenetráveis,
teus pés já terão se cansado de poeiras e pedras
espalhadas em meus cantos.