sábado, 29 de novembro de 2008

Sobre a dor (sem pretensões literárias)

Que eu suporte um pouco mais,
além dos olhos cansados e a face sem expressão.

Que eu me desdobre em comprender-me
para que a dor não me pese tanto no peito nem nas têmporas.

Que eu me faça poesia assim, crua,
só para não calar a alma,

E me revista de noite para que as sombras me cubram.

Mas principalmente
que esse mal que me entra pelos poros
corroa apenas a mim,
vertendo-se em lágrimas e palavras

ou apenas em um grito sufocado.

Mas que morrer engasgada
de sangue e silêncio
não seja meu fim...

domingo, 23 de novembro de 2008

Soneto da partida


Sinto o fracasso latente em meus ombros.
Pesa em meus passos que vão devagar
Áspero gosto de falta de ar
vejo-me agora em meus próprios assombros.

Já dessa ingrata e efêmera vida
nada desejo, tampouco piedade.
Só, no limite da mediocridade
sofro calada, minh’alma implodida

Tal qual abutre que aguarda no chão,
do alimento, um último espasmo,
sonda-me a Morte em sinistra atenção.

Neste processo de putrefação,
traga-me o fim, ao menos um orgasmo
e que partir não me seja em vão.


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Madrugada

Hoje dormirei
com anjos, arcanjos e querubins.

Guardarei os sonhos perdidos
para esta noite, se a noite me permitir algum.

Embriagada de desencanto
entrego-me à madrugada insensível.

Dormirei com o cansaço das imperfeições
que habitam o quarto
cheirando a resignação.

E pela manhã,
com a ressaca química me condenando,
acordarei com uma conveniente amnésia,
enforcando vozes
vindas da consciência hipócrita.

Se é que acordarei
desse repouso artificial.

Flores


as begônias estão mortas
mas ainda estão ali
combinando com pelúcias cínicas.

nesse fim de tarde que me asfixia
deixo apodrecer
mais um traço de lembrança.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Poema de amor

A noite se resume em mim:
anjos quebrados,
estúpidos pecados
e esse gosto de sal e ódio
alimentando o desespero
e esse amor,
piegas e insuportável.

Mutilo teu rosto,
impotentemente.

Quero mastigar teus cacos
um a um.
Para depois cuspi-los de vez
na cara cínica
dessa solidão desproporcional.

Dane-se

Dane-se
Toda essa história de métrica
rimas ou lirismo barato.
Queria criar metáforas
imagens poéticas
neologismos decentes.

Mas com a noite revirada ao avesso
e minhas partes espalhadas no quarto
juntando tudo é nada
e nada não faz poesia.

Meu retrato é 10 anos mais velho que no mês passado
e o sorriso amarelo e educado aos superiores
já quase nem se força.

Em volta, dentro e fora do espelho
só sobraram cacos
maquiagem
e clichês.
Dane-se.

A dor é maior e não é fictícia.